Carioca, nascido em 1949 no bairro de São Cristóvão, casado com a médica Maria de Fátima Pinheiro, dois filhos e dois netos, o médico-pediatra Paulo Pinheiro formou-se após cursar seis anos na Faculdade de Ciências Médicas da UEG (atual UERJ). Concluiu a pós-graduação em Pediatria da PUC na Policlínica de Botafogo, com o Professor Álvaro Aguiar, e tem os títulos de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria e de Administração Hospitalar pela UERJ. (Continua)

22 de fev. de 2008

O início dos problemas da Saúde Pública do Rio de Janeiro - PARTE I

1 - Histórico da Rede Pública no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro foi sede do Governo do Brasil durante 197 anos, o que engloba um longo período que vai da época colonial, passa pelo Império e chega até a República. Em 1960, quando a capital foi transferida para Brasília, a cidade passou a abrigar a maior rede de Saúde Pública do país. Em todos esses anos, porém, os hospitais parecem ter sido construídos sem planejamento estratégico algum, causando a sobreposição de funções que perdura até os dias de hoje.


Com a inauguração da nova capital, o antigo Distrito Federal passou ao novo Estado da Guanabara o total de trinta e seis hospitais e oito centros médico-sanitários, em sua maioria construídos na administração do prefeito Pedro Ernesto. Tais instituições ficaram subordinadas à Superintendência de Serviços de Saúde (SUSEME), órgão do Governo do Estado. Mediante a fusão entre os estados do Rio de Janeiro e da Guanabara em 1975 (em pleno governo militar), foi criada a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, que se tornou a capital do novo estado. Por decisão dos GOVERNOS NOMEADOS, foi feita uma divisão das unidades de saúde que não eram federais. ELES passaram a responsabilidade sobre os Centros Médico-Sanitários para a nova prefeitura, com a nova denominação de “Centros Municipais de Saúde”, um em cada região administrativa. No que diz respeito aos hospitais, até então subordinados à SUSEME, a nova prefeitura passou a gerir apenas certas unidades. Destas, algumas eram institutos especializados e outras eram hospitais gerais com emergência. Todas situadas até o bairro do Méier. Dessa forma, os Hospitais Souza Aguiar, Miguel Couto e Salgado Filho voltaram a ser hospitais subordinados ao Município, enquanto os institutos especializados (como o de Diabetes e o Hemorio) e os hospitais gerais com emergência que foram construídos ao longo da linha férrea, situados entre a região da Penha até Santa Cruz, permaneceram sob o comando do Governo do Estado.

Já no nível Federal, uma imensa e poderosa rede de hospitais foi construída sob os auspícios do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS), através dos seus Institutos de Aposentadoria (IAPs), como por exemplo o dos Bancários, Comerciários, Marítmos, Ferroviários etc. Nessas circunstâncias, portanto, surgiram o Hospital da Lagoa, o de Ipanema, o do Andaraí, de Bonsucesso e o de Jacarepaguá. Tais hospitais estavam destinados a atender exclusivamente trabalhadores urbanos e seus dependentes, já que naquela época o sistema não era de acesso universal. O Governo Federal criara para seus servidores o Instituto de Previdência e Assistência (IPASE), que na década de 40 ficou responsável pela construção do Hospital dos Servidores do Estado. A rede Federal ainda contou com o acréscimo de 16 Postos de Assistência Médica (PAMs), construídos pelo então Ministério da Previdência e Assistência Social. Mas na década de 70, o recém-criado Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), autarquia que se desmembrara do antigo INPS, logo acabou por englobar todas as instituições federais.

Assim, sem planejamento algum, foi construída a maior rede pública do país. Até a promulgação da Constituição de 1988, ela funcionava de forma completamente diferente de hoje.

A SUSEME (Governo Estadual) e a Prefeitura, por exemplo, atendiam em suas redes todos os pacientes de forma indiscriminada, enquanto os hospitais dos IAPs somente recebiam trabalhadores urbanos e seus dependentes mediante a apresentação da carteira de trabalho assinada.

À época, o Ministério da Saúde cuidava apenas do controle das grandes endemias, como por exemplo a malária, hanseníase, doença de chagas e esquistossomose, Essa função era realizada através de 2 órgãos: a Superintendência de Campanhas (SUCAM) e a Fundação Serviço Especial de Saúde Pública (Fundação SESP). Na área hospitalar, o Ministério controlava imensos sanatórios (hospitais colônia) para o tratamento de tuberculosos, hansenianos, e pacientes psiquiátricos.

Esse sistema “esquizofrênico” não acompanhou devidamente o desenvolvimento do país e a evolução sócio-econômica mundial. Tantas críticas resultaram na criação de um movimento denominado “Reforma Sanitária”, composto por um grande número de profissionais da área que estavam insatisfeitos e tinham um pensamento mais avançado em relação a saúde.

Primeira Postagem

Vamos dar início a este blog com uma interessante discussão sobre a história da saúde pública no Rio de Janeiro.

Um estudo que realizei em agosto de 2007 traça um perfil histórico do setor de saúde da cidade, desde os primórdios até os dias de hoje. Através deste estudo, conseguimos entender muitos dos problemas atuais enfrentados pela capital do estado, no que tange à rede pública de hospitais e postos de atendimento.

O artigo se divide em três partes, que serão postadas em sequência:

1 – Histórico da Rede Pública no Rio de Janeiro

2 – A Constituição de 1988 institui um novo sistema de saúde: o SUS

3 – Como funciona a Rede de Saúde hoje